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Blog Mundo Novo
Biofilmes de amido, conservação e sustentabilidade

As indústrias buscam constantemente inovações quanto o assunto é conservação de alimentos.  Formas comuns de conservação remontam a antiguidade e ocorrem através de processos como a salga, a secagem e a defumação. Atualmente, métodos de conservação mais avançados exploram o controle da cadeia do frio, uso de aditivos e conservantes, uso de embalagens inteligentes com aplicação de atmosfera modificada ou que interagem com os alimentos prolongando sua validade.

A sociedade moderna, composta por consumidores mais atentos aos problemas globais, vem buscando amenizar o impacto do alto consumo com opções de produtos mais sustentáveis. Portanto, métodos de conservação mais sustentáveis e renováveis são tendência em um mercado que consome aproximadamente 400 milhões de toneladas de plástico por ano, sendo que 40% desse total é de uso único, ficando neste grupo as embalagens de alimentos. Embalagens plásticas podem demorar mais de 600 anos para se decompor e o impacto desse consumo é extremamente negativo para o meio ambiente, principalmente em países com baixo índice de reciclagem, como é o caso Brasil onde 2,1% dos resíduos são reciclados, vale salientar que esse valor inclui diferentes tipos de materiais, não somente plástico.

Diversos estudos buscam alternativas para embalagens mais sustentáveis. Um caminho promissor é o de desenvolvimento bioplásticos, que possuem um tempo de degradação muito inferior aos plásticos convencionais, e de biofilmes comestíveis. Os Bioplásticos de biomassa possuem ingredientes oriundos de fontes renováveis, como por exemplo o amido in natura da mandioca, conhecida industrialmente como Fécula de Mandioca. A Fécula de Mandioca possui características que favorecem a formação polímeros biodegradáveis, tem um custo relativamente baixo quando comparado a fontes não renováveis como o petróleo e possui fácil degradação, reduzindo seu impacto ao meio ambiente.

Outro fator interessante é que 87% da produção de mandioca no Brasil vem da agricultura familiar, sendo portanto, sua aplicação em bioplásticos um estímulo quanto a sustentabilidade e também desenvolvimento social e econômico.

Já os biofilmes comestíveis de amido também estão sendo amplamente estudados para conservação de frutas e legumes in natura ou até minimamente processados. São películas finas aplicadas na superfície de um alimento e agem como barreiras a elementos externos, protegendo o produto de danos físicos e biológicos.  As frutas e legumes, por exemplo, após a colheita ainda realizam trocas metabólicas com ambiente, produzindo o gás etileno que é o precursor do processo de amadurecimento. Uma fruta em estado avançado de amadurecimento produz muito etileno que por sua vez amadurece outras frutas. Os biofilmes agem como uma cobertura transparente na superfície dessas frutas e legumes, impedindo a troca gasosa com o ambiente, retardando o amadurecimento, prolongando a vida de prateleira e contribuindo para a cadeia de distribuição desse tipo de produto que muitas vezes depende de caminhões e armazéns refrigerados, gerando alto custo do produto final.

No caso de frutas minimamente processadas e que sofrem escurecimento enzimático, como maçãs e peras, os biofilmes de amido também já demonstraram ser eficiente, retardando o escurecimento e prolongando a vida de prateleira. Fáceis de serem aplicados, os biofilmes são geralmente uma solução aquosa de amido com concentrações variáveis. Estudos apresentam concentrações entre 2 a 5%. As frutas e legumes, após serem higienizados, são submersos nessa solução que, quando secam, formam a fina película de proteção. Além de imersão, outro método de aplicação seria por aspersão. Um estudo realizado pela UFRPE e divulgado na Revista Brasileira de Ciências Agrárias fez um comparativo da Fécula de Mandioca e do Amido de Milho em biofilmes aplicados em manga, observando que uma concentração menor de fécula 2% foi suficiente para alcançar os mesmos resultados de conservação que o biofilme de amido de milho com 5% de concentração.

A ciência explora nossos recursos naturais e extrai deles o que temos de melhor. A indústria brasileira transformar a ciência em produto. Aos consumidores então fica a responsabilidade de buscar, dentro da nossa forma de consumo, alternativas mais sustentáveis que reduzem o impacto ambiental e social.

A mandioca é uma planta com inúmeras aplicações, de alimentos a biofilmes, tão completa que estimula um mercado mais sustentável não só pelos seus produtos, mas por toda sua cadeia produtiva que valoriza a agricultura familiar. Consumir produtos derivados da mandioca, faz nosso planeta ficar alegre e agradecer.

Assessoria08/10/2021 | 16:10