Nesta semana comemoramos o dia do Pão de Queijo, no dia 17 de agosto. Essa iguaria nasceu no Brasil e vem conquistando o mundo. Ao estudarmos seu surgimento e o seu papel na sociedade e na economia de algumas regiões somos levados a refletir sobre como alguns alimentos são importantes, carregam uma bagagem cultural, histórica e afetiva que ultrapassam os séculos. O Pão de Queijo é um desses alimentos que deveriam ser considerados patrimônio cultural e imaterial do Brasil.
Sua origem remete aos séculos XVII e XVIII, um período de grande exploração de minério na região sudeste do país, principalmente em Minas Gerais. Alguns historiadores associam seu surgimento aos escravos e ao final do período de exploração de minérios, quando ocorreu um aumento de fazendas de gado leiteiro com consequente produção de queijo. Não é difícil concordarmos com essas deduções pois no período escravagista, cabia aos escravizados a ocupação de cozinhar nas senzalas e nas grandes casas das fazendas para seus senhores. Também é de conhecimento geral que eles, devido a limitações que dispunham de alimentos, buscavam transformar alimentos considerados sobras em alimentos que até hoje são considerados pratos típicos da culinária brasileira, como a feijoada, o mocotó e tantos outros. Essa pode ser a explicação para que as raspas do processo de cura do queijo comecem a ser aproveitadas e adicionadas na elaboração do pão. Além disso, era comum o comércio através das quituteiras, mulheres escravizadas que cozinhavam e comercializavam alimentos para seus senhores. Como a exploração de minérios estimulou o aumento populacional, o comércio de alimentos foi incentivado, sendo as quituteiras as responsáveis pela oferta de alimentos, como o pão, a esses exploradores.
Naquele período, a baixa disponibilidade e o difícil acesso a alguns ingredientes como a farinha de trigo, que trazida da Europa chegava com má qualidade até seu destino final, fez com que as cozinheiras utilizassem farinhas alternativas existentes na região. Ingredientes como a farinha de mandioca e o polvilho, já amplamente utilizados pelos indígenas, começaram a fazer parte das receitas em substituição a farinha de trigo. Já a inclusão da mistura de ovo e leite, que é muito comum em doces e quitutes portugueses, podem serem considerados uma herança dessa colonização. Podemos então compreender que sua origem sofreu influência de diversas culturas e foi motivada por um processo histórico sendo, naquele período, uma solução para alimentação local.
Até em um cenário mais atual o Pão de Queijo teve seu destaque, sendo que um momento político no Brasil chegou a ser conhecido como a República do Pão de Queijo, quanto o governo do ex-presidente Itamar Franco ficou conhecido por possuir um grande número de mineiros atuantes em sua gestão.
Apesar de seu consumo ser difundido em Minas, através de receitas caseiras, foi somente após 1950 que ele começou a ser popularizado e comercializado no Brasil, se tornando um produto referência de Minas Gerais e tendo papel fundamental no turismo gastronômico da região. O sucesso de sua comercialização foi tanto que hoje empresas fabricam e comercializam o pão de queijo de diversas formas, como misturas em pó, congelados, massas refrigeradas, recheados, gourmet, entre tantos outros. Difícil entrar em uma padaria brasileira e não encontrar o Pão de Queijo para um café da manhã ou um lanche. Sua receita é basicamente polvilho azedo ou doce, queijo, leite ou água, ovos, gorduras e o queijo. Apesar das variações em sua receita, como o tipo de polvilho usado, a gordura ou o queijo, a paixão por ele é a mesma e principalmente quando é acompanhado de um bom café.
O Pão de Queijo hoje merece destaque pelo elevado crescimento do seu consumo no mercado nacional e a expansão de seu mercado no exterior. Algumas empresas se destacam em sua produção e comércio, com ampliação de unidades fabris e centenas de franquias pelo país. No primeiro semestre de 2020 a ABIMAPI apresentou dados referentes a exportação de pães e bolos industrializados, que inclui o pão de queijo, mostrando um aumento de 85% de faturamento em relação ao mesmo período do ano anterior. Apesar da pandemia, ocorreu um aumento dos consumidores por alimentos versáteis, que podem ser elaborados ou apenas finalizados em casa, como é o caso do pão de queijo congelado. Enquanto ocorreu em média um aumento de 23% de vendas de itens gerais em supermercados com a pandemia, as vendas do pão de queijo chegaram a ter um aumento de mais de 30% para algumas empresas do ramo. Isso é um reflexo do poder do pão de queijo como um alimento reconfortante, que traz memórias afetivas, associado a prazer e recompensa em um período de mudança do comportamento social imposto pela pandemia.
Apesar de não podemos afirmar quando ele efetivamente surgiu e nem quem o fez pela primeira vez com as características que conhecemos hoje, podemos compreender que ele representa a união das nossas culturas, sendo mais que um simples alimento, ele é um elemento cultural brasileiro, que nasceu com a nossa história e que acompanha nossa sociedade através dos séculos.